O transplante pulmonar na fibrose cística – parte II: Quais são os passos para a realização.

Uma vez indicado que o paciente tem indicação de se submeter ao transplante de pulmão, é necessário que ele passe pelos seguintes estágios:

 

Estágio 1: A discussão inicial

A indicação do transplante como opção de tratamento é uma experiência que causa muito stress ao paciente e sua família. São comuns os sentimentos de choque, recusa em aceitar a realidade e raiva. É comum o surgimento de perguntas do tipo “será que já estamos neste ponto?”, “isto tem que ser feito agora?”, “quanto tempo nós temos para decidir?”. Nesta fase, é importante que o paciente e sua família tenham oportunidade de externar suas impressões e sentimentos com a equipe de FC.

 

Estágio 2: A decisão de realizar o transplante

Mesmo tendo indicação médica, a decisão sobre a realização do transplante cabe ao paciente e sua família.Tomar esta decisão deixa as famílias sob stress intenso.

Conversar com pacientes e famílias que estão aguardando o transplante ou que foram submetidos ao procedimento pode ser útil.

Neste estágio, a família deve ser avaliada do ponto de vista psico-social, receber apoio psicológico e receber mais informações sobre o transplante.

 

Estágio 3: A avaliação clínica do Centro de Transplante

Uma vez tomada decisão de realizar o transplante, o paciente é submetido aos exames complementares iniciais e é encaminhado a um centro especializado em transplante pulmonar. No Brasil, o transplante de pulmão é realizado em São Paulo e em Porto Alegre. No CGP, estamos encaminhando os pacientes com para a Santa Casa de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

No centro de transplante, o paciente tem oportunidade de conversar com a equipe que realiza o procedimento, tirar suas dúvidas e submete-se a novos exames.

Após a avaliação do paciente, a equipe do centro de transplante pulmonar pode concluir por uma das três opções:

a) Contra-indicar o procedimento: cerca de 4-10% dos pacientes podem ser considerados não elegíveis para realizar o transplante, por apresentarem quadros relacionados à maior mortalidade pós-transplante.

b) Postergar a indicação: paciente ainda não preencheria os critérios para submeter-se ao procedimento, em outras palavras, não estaria tão grave no momento.

c) Indicação do transplante.

 

Estágio 4: A espera pelo transplante

O tempo de espera para receber o transplante de pulmão, de doador morto compatível com o paciente, tem sido de 18 meses, segundo médicos do Serviço de Transplante Pulmonar de Porto Alegre. Entretanto, o transplante pode ocorrer a qualquer momento que aparecer um doador compatível.

Devido ao tempo curto de viabilidade do pulmão oriundo de doador morto, é necessário que o paciente se mude para a cidade onde fica o centro de transplante. Viabilizar a mudança de cidade (e de estado) tem sido o maior entrave para os pacientes que são encaminhados para transplante de pulmão.

Os pacientes pediátricos podem se beneficiar da doação de parte do pulmão do pai ( lobo inferior direito) e da mãe (lobo inferior esquerdo), é o chamado transplante inter-vivos, e não necessitar esperar por um doador morto.

Durante o período em que está aguardando o procedimento, o paciente é continuamente monitorado e recebe apoio psicológico.

 

Estágio 5: A comunicação

O paciente e sua família têm de estar conscientes de que o doador pode ocorrer a qualquer momento. O paciente deve estar acessível para comunicação e dirigir-se ao hospital tão logo seja chamado.

 

Estágio 6 : A cirurgia e o período pós operatório

O procedimento realizado é o transplante pulmonar bilateral seqüencial. Após a cirurgia, segue-se um período de internação no CTI (em média 15 dias) e depois na enfermaria (em média de 30 dias). Após a alta hospitalar, o paciente necessita permanecer mais um tempo na cidade onde realizou o transplante (em média 6 meses), para acompanhamento.

Desde o pós-operatório imediato, o paciente precisa tomar medicamentos para evitar a rejeição do órgão transplantado (imunossupressores). Apesar do uso destes medicamentos, um dos maiores riscos que o paciente corre é o de apresentar rejeição. Por outro lado, o uso de imunossupressores pode debilitar o sistema de defesa do paciente, o que aumenta o risco de infecção generalizada (sepse).

Outro problema enfrentado pelos pacientes pós-transplantados é a ocorrência de bronquiolite obliterante, que é uma obstrução das pequenas vias aéreas e causa uma deterioração da função pulmonar. A bronquiolite obliterante pode acometer cerca de 10-15% dos pacientes no 1º ano e 50-60% dos pacientes até o 5º ano pós-transplante, sendo uma causa importante de mortalidade.

O paciente com FC não apresenta mais os problemas pulmonares relacionados à doença (muco espesso), mas necessita tomar medicamentos para viabilizar sua vida de pós-transplantado de pulmão e continuar usando os medicamentos relacionados às outras alterações decorrentes da FC (enzimas, vitaminas e etc).

 

Fontes:

1)     International Guidelines for the Selection of Lung Transplant Candidates. Am. J. Respir. Crit. Care Med., Volume 158, Number 1, July 1998, 335-339.

2)     Cystic Fibrosis in Children and Adults – The Leeds Method of Management (Revised Edition, number 6, 2003). Conway SP et al.

 

 

 

Dr. Alberto Andrade Vergara

Pneumologista

Coordenador do Serviço de Fibrose Cística do Hospital Infantil João Paulo II.

Membro do Conselho Científico da AMAM

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